quinta-feira, 17 de outubro de 2024

Reveillon no halloween

Demorei de novo para escrever aqui. Chegou um momento que eu decidi deliberadamente não vir escrever. Como as coisas estavam um pouco bagunçadas decidi vir aqui só depois de ter conseguido organizar as coisas um pouco. No caso o meu norte foi a leitura: iria escrever só depois de terminar de ler os livros da TAG de 2023. E foi isso que aconteceu hoje: terminei os livros de dezembro de 2023 e agora posso começar 2024.

Acho que nunca fiquei tão atrasado com minhas leituras como dessa vez... Já cheguei a ficar talvez uns 8 meses atrasado e consegui me organizar para ler até ficar tudo em dia. Demorou mas consegui até eu desconseguir de novo e agora estou atolado com uns vinte livros empilhados (com mais dois chegando a cada mês). O método vai continuar o mês. Tentarei ler um livro por semana até ficar atualizado. Vai demorar... de novo. Com os recessos de final de ano chegando vou tentar focar na leitura e adiantar ao máximo.

Também decidi que para essa leva de leitura vou tentar ser criativo e escrever uma resenha para cada um, fazer uma foto para postar nas redes sociais e tentar criar uma ilustração sobre a história... quem sabe sai algo interessante, quem sabe consigo virar um leitor tester da TAG, quem sabe faço amizades no app deles. 

Enquanto estive longe a cidade passou por uma seca e foram mais de seis meses sem uma gota de chuva. Um inferno chamado mudanças climáticas. Agora a chuva voltou. Ainda não aconteceu uma tempestade das boas, apenas algumas chuvas rápidas aqui e ali. Essa semana vi mais relâmpagos e ouvi mais raios na distância do que água... eu ainda não consegui tomar um banho de chuva.


quarta-feira, 13 de março de 2024

Eu sei, mas não devia

O copo está meio cheio ou meio vazio? Você pode ser otimista ou pessimista, entretanto, a realidade é que o copo não está nem uma coisa, nem a outra. Está no meio termo, mediano, medíocre. 

Dia desses eu me peguei pensando sobre isso. Acho que tinha ouvido na TV que o governo ia dar dinheiro para os estudantes de ensino médio que concluísse os estudos, e li algo sobre jovens e idosos que teriam direito a passagem de ônibus interestaduais gratuita e descontos em ingressos para eventos culturais como teatro e cinema. E todos os benefícios não caberiam a mim. Eu já havia passado da idade que o benefício contemplava ou minha renda seria maior do que os que poderiam usufruir do benefício, coisas do tipo.

Me deu aquele sentimento de que na minha vez de jogar a vida adulta o jogo ficou nível hard. Em  algum momento eu escrevi aqui sobre como eu sentia falta de ter uma paixão por algo ao ponto de saber tudo sobre aquele tópico, como eu era com Nárnia, por exemplo. Esse sentimento também voltou e misturou com o outro...

Me sinto medíocre. Sempre na média mas sem nenhum destaque. Não sou feio, não tenho nenhuma deformidade... mas também não sou bonito ao ponto de me sobressair aos olhos dos outros. Não sou completamente estúpido, mas também não sou brilhante. Não tenho uma habilidade especial, não toco um instrumento, não desenho ou pinto, não sei cantar e até mesmo na minha área não sou tão notável assim, faço o básico. 

Nesse último ponto eu já me perdoei um pouco. Eu aprendi inglês sozinho, minha família não teve condições de pagar um curso pra mim. Não posso me comparar com algumas pessoas do meu trabalho, por exemplo, que são bem mais novas que eu mas tiveram acesso aos estudos de línguas na adolescência e também tiveram famílias com condições financeiras para que eles até viajassem para o exterior e, em alguns casos, até estudar fora. Na meritocracia tem gente que começa a corrida com quilômetros de vantagem e isso reflete no resto da vida. 

Eu queria ser mais, queria fazer mais. Agora tenho dois empregos, alunos particulares e ainda pego alguns serviços por fora. No tempo livre que tenho não sobra energia física ou mental para fazer outras coisas. Até a leitura que eu estava quase conseguindo botar em dia desandou. 

Lendo os textos do trabalho eu me deparei com essa crônica da Marina Colasanti:

Eu sei que a gente se acostuma. Mas não devia.

A gente se acostuma a morar em apartamentos de fundos e a não ter outra vista que não as janelas ao redor. E, porque não tem vista, logo se acostuma a não olhar para fora. E, porque não olha para fora, logo se acostuma a não abrir de todo as cortinas. E, porque não abre as cortinas, logo se acostuma a acender mais cedo a luz. E, à medida que se acostuma, esquece o sol, esquece o ar, esquece a amplidão.

A gente se acostuma a acordar de manhã sobressaltado porque está na hora. A tomar o café correndo porque está atrasado. A ler o jornal no ônibus porque não pode perder o tempo da viagem. A comer sanduíche porque não dá para almoçar. A sair do trabalho porque já é noite. A cochilar no ônibus porque está cansado. A deitar cedo e dormir pesado sem ter vivido o dia.

A gente se acostuma a abrir o jornal e a ler sobre a guerra. E, aceitando a guerra, aceita os mortos e que haja números para os mortos. E, aceitando os números, aceita não acreditar nas negociações de paz. E, não acreditando nas negociações de paz, aceita ler todo dia da guerra, dos números, da longa duração.

A gente se acostuma a esperar o dia inteiro e ouvir no telefone: hoje não posso ir. A sorrir para as pessoas sem receber um sorriso de volta. A ser ignorado quando precisava tanto ser visto.

A gente se acostuma a pagar por tudo o que deseja e o de que necessita. E a lutar para ganhar o dinheiro com que pagar. E a ganhar menos do que precisa. E a fazer fila para pagar. E a pagar mais do que as coisas valem. E a saber que cada vez pagar mais. E a procurar mais trabalho, para ganhar mais dinheiro, para ter com que pagar nas filas em que se cobra.

A gente se acostuma a andar na rua e ver cartazes. A abrir as revistas e ver anúncios. A ligar a televisão e assistir a comerciais. A ir ao cinema e engolir publicidade. A ser instigado, conduzido, desnorteado, lançado na infindável catarata dos produtos.

A gente se acostuma à poluição. Às salas fechadas de ar condicionado e cheiro de cigarro. À luz artificial de ligeiro tremor. Ao choque que os olhos levam na luz natural. Às bactérias da água potável. À contaminação da água do mar. À lenta morte dos rios. Se acostuma a não ouvir passarinho, a não ter galo de madrugada, a temer a hidrofobia dos cães, a não colher fruta no pé, a não ter sequer uma planta.

A gente se acostuma a coisas demais, para não sofrer. Em doses pequenas, tentando não perceber, vai afastando uma dor aqui, um ressentimento ali, uma revolta acolá. Se o cinema está cheio, a gente senta na primeira fila e torce um pouco o pescoço. Se a praia está contaminada, a gente molha só os pés e sua no resto do corpo. Se o trabalho está duro, a gente se consola pensando no fim de semana. E se no fim de semana não há muito o que fazer a gente vai dormir cedo e ainda fica satisfeito porque tem sempre sono atrasado.

A gente se acostuma para não se ralar na aspereza, para preservar a pele. Se acostuma para evitar feridas, sangramentos, para esquivar-se de faca e baioneta, para poupar o peito. A gente se acostuma para poupar a vida. Que aos poucos se gasta, e que, gasta de tanto acostumar, se perde de si mesma.


Eu, aos poucos, vou tentando não me acostumar... inclusive vou agora ler um pouco mais.


terça-feira, 26 de dezembro de 2023

BEM VINDO



Acho que esse foi o hiato mais longo que eu já fiz no blog desde que comecei. Foi mais de um ano... e muita coisa aconteceu, e tinha muita coisa pra contar, e eu sempre pensava em vir escrever. Acontece que eu não estava com o estado de espírito para escrever. Agora as coisas mudaram. Elas mudaram a um tempinho atrás, só que era final de ano e fechamento de semestre é sempre corrido. 

Acho que já mencionei isso aqui, mas dessa vez em me entendi melhor. Eu costumo querer agradar aos outros sempre evito ao máximo entrar em conflito. Por isso eu sempre digo sim para as pessoas. Sempre aceito as sugestões, mesmo não sendo o que eu realmente queria.

Entretanto, nesse aceitar o que os outros querem pra poder agradar ou não entrar em conflito eu vou me apagando. Me sinto meio transparente, como se eu não estivesse em lugar algum, sou só um plano de fundo, o coadjuvante num canto e nunca o protagonista. 

Esse ano eu entendi que eu aceitar o que os outros querem ao invés de me impor é porque eu tenho uma característica muito importante: eu sei me adaptar, sei me adequar, me mudar para o que for necessário. Em outras palavras: eu sei sobreviver. Eu aceito o que os outros querem porque eu sei que vou adaptar, pra mim é fácil. Eu sou o ápice da evolução, eu me adapto ao que for preciso, eu sobrevivo. Darwin estava certo.

Contudo, eu não quero só sobreviver. Eu quero viver. E por isso eu preciso me impor de vez em quando. Dizer o que eu quero, quais são os meus limites. Não posso pautar minha vida com base na vontade dos outros. Não posso fazer meus planos e depois ter que jogá-los fora porque outra pessoa decidiu fazer algo diferente do que ela havia combinado.


Depois de um ano me sinto em casa novamente. Me sinto livre. Um novo ano começa e a vida recomeça.

Prometo não demorar outro ano para aparecer aqui de novo... e ainda tenho muitas novidades para contar.


domingo, 25 de dezembro de 2022

Running up that building

Acho que deu um mês na casa nova.

Antes eu tinha falado sobre meu gato ter desaparecido... foi achado. Ele passou a noite miando em algum lugar indeterminado até a manhã seguinte, quando fui procurar melhor e acabei descobrindo ele em uma casa abandonada isolada no meio do quarteirão. Liguei para os bombeiros que se recusaram a me ajudar, acabei eu mesmo fazendo o resgate. Depois disso ele passou a se aventurar menos, e as vezes que ele sai aparece um outro gato que bate nele... A Jadis não deu problema nenhum até agora e ambos estão bem mais domésticos e até engordando um pouco.

Na última vez que fui na minha antiga casa para buscar algumas coisas que ficaram pra trás, decidi pegar um dos ladrilhos hidráulicos da cozinha. Aquela casa foi a que eu passei mais tempo da minha vida e foi a primeira que eu deixei (por minha vontade própria e não porque eu era criança e não tinha poder de escolha). Decidi que queria levar uma lembrança física do lugar. Decidi pegar o ladrilho que ainda vou enquadrar e colocar na parede e também peguei uma pecinha tipo maçaneta da porta do banheiro - que eu estou pensando em fazer de colar (não sei se ficaria bom). 

 Ando cozinhando cada vez mais. Acho que atualmente minhas especialidades estão sendo pizza e focaccia. Estou fazendo pizza quase toda  sexta feira e focaccia cada vez com mais frequência. Ainda não aprendi fazer aquelas bonitas, com a cobertura imitando flores como as que eu vejo no pinterest. Mas o gosto está ótimo e elas estão ficando bem crocante por fora e macias por dentro - que é o mais importante. Ainda quero arrumar a cozinha... ter armários de madeira e prateleiras com os temperos e demais condimentos em frascos de vidros, tudo com uma cara cottage core. Aos poucos vou arrumando isso, conforme for tendo dinheiro (vai demorar).

Como é a primeira vez na casa nova, decidi montar a árvore de Natal. Ficou bonitinho, mas nada muito chamativo. Fica no hall do banheiro, não é um lugar que eu olho sempre. Tive a oportunidade de subir no Manhattan. Foi minha primeira vez dentro do prédio mais famoso de Uberaba. Quando cheguei no topo me deu um pouco de vertigem. Foi meio estranho. E a cidade pareceu tão pequena lá de cima. Consegui ver todo o limite do município e a sensação foi que de 10 minutos basta para cruzar a cidade. O porteiro foi muito gente boa, deixou subir sem criar caso e ainda falou que tinha que voltar a noite para ver a cidade iluminada. Anderson o nome dele... ainda vou dar um jeito de voltar lá a noite ou no por do sol.

Ainda tenho que tentar aproveitar minhas férias... mais um ano está terminando e estou ansioso para ver o que vai acontecer em 2023

sábado, 3 de dezembro de 2022

Um novo começo

 Um ciclo da minha vida terminou e outro se iniciou. Mudei de casa.

Foi a casa que passei mais tempo, foi onde terminei ensino fundamental, médio, comecei e terminei a faculdade, foi onde eu estava quando tive meu primeiro emprego, foi onde eu estava quando conheci muitos dos meus amigos que me restam até hoje. Foi onde vi minha mãe pela última vez, foi onde muitos ciclos da minha vida começaram e terminaram. Acho que posso dizer que foi a casa em que cresci.

 Me lembro da mudança: foi repentino. Onde morava anteriormente foi vendido e tivemos que achar algum lugar perto e a uma esquina de distância foi onde fomos parar. Era uma casa velha, o forro de madeira caindo, o chão de tábua corrida coberto por um carpete verde... pés de fumo nas janelas, canteiros arrasados no quintal. 

A casa era muito velha, meus pais não tinham interesse em investir para reformar. Com o tempo ela ficou ainda mais velha. Ainda assim, foi nosso teto e abrigo por mais de vinte anos. 

No começo do ano meu pai comprou uma casa com o dinheiro da herança de meu avô e eu comecei a morar sozinho. Agora em outubro combinei com uma amiga de Santos vir morar comigo. Mesmo atrasando um pouco os planos por causa da eleição tudo aconteceu bem rápido e ela chegou. 

Ela sugeriu reformar a casa, eu sugeri mudar para um outro lugar (a reforma ia custar muito caro e não resolveria muita coisa). Novamente tudo aconteceu muito rápido. Todo o tramite de imobiliária aconteceu sem tormenta e acabei de mudando para um apartamento em que uma amiga morou por 10 anos e estava desocupado por dois anos.

Curiosamente, eu tinha a chave do lugar desde sempre. Certa vez minha amiga me deu a chave para que eu pudesse cuidar dos gatos dela enquanto ela viajava. Depois ela pediu pra eu ficar com a chave para caso houvesse uma emergência e eu pudesse socorrê-la. Por uns três anos eu tive a chave do apartamento que agora é minha casa. Parece que estava predestinado a acontecer. 

E antes de ir, só gostaria de registrar que estou preocupado... o Salem II está sumido desde manhã cedo...


"Chegou à conclusão de que era um monstro, separado do resto da humanidade. Caiu sobre ele uma tristeza tremenda..."