quinta-feira, 11 de fevereiro de 2016

O ócio era a essência do Homem....

Quando a gente é adolescente o nosso maior sonho é fazer 18 anos. Temos a ilusão de que com 18 anos seremos "livres", independentes, podendo fazer tudo o que quiser sem ter que dar satisfação para ninguém. É uma grande ilusão. 

A ideia de crescer, virar adulto é uma grande ilusão. Como diria Pedro: "É uma cilada!". Ser adulto é um saco! Você tem tantas responsabilidades, tantos afazeres... e você tem que trabalhar.

Minha família não é rica, mas também não é pobre. Quando mais novo eu nunca precisei trabalhar para ajudar nas contas de casa e meus pais nunca fizeram questão que eu trabalhasse. Sei que isso é um privilégio, tem pessoas que não tem essa possibilidade, mas não estou aqui agora para comparar minha vida com a de ninguém. Não é esse meu objetivo no momento. 

Comecei meu primeiro trabalho em fevereiro de 2014 numa escola de cursos técnicos. Fiquei sabendo do lugar pela minha professora de inglês, enviei currículo, fiz entrevista e quando chegou na disponibilidade de horários, a dona me dispensou de maneira bem grossa. Na época eu ainda estava na faculdade (se não me engano, faltando um ano pra terminar) e não podia em alguns horários... Alguns dias depois, a diretora da tal escola me ligou pedindo para que eu fosse trabalhar lá. A primeira vez que fui eu estava animado com a ideia do primeiro trabalho e depois de ser dispensado pela dona da franquia, fiquei desmotivado. Quando ela ligou pedindo pra eu retornar eu já não tinha mais interesse no emprego. Ela insistiu tanto ligando no meu celular e aqui em casa todo hora todos os dias que acabei cedendo e decidi aceitar a proposta. 

Ela me chamou na quinta e disse que enviaria pra mim o material que era usado lá e o ponto da matéria em que os alunos tinham parado para que eu pudesse me preparar na sexta-feira e começar as aulas no sábado. Não me enviou nada. Cheguei na pra trabalhar no sábado com a cara e a coragem. E sobrevivi! Consegui das as cinco aulas, das oito e meia da manhã até as cinco da tarde (direto!) de maneira tranquila e satisfatória.

Nesse dia eu sai de lá com um sentimento de missão cumprida, de realização: eu era um professor - eu estava preparado para fazer o que eu havia estudado durante quatro anos. Fiquei muito feliz. Mas no começo tudo são flores..


Eu li um artigo sobre a geração Y, da qual eu faço parte. Uma geração que não viu guerra, não viu sofrimento de verdade, uma geração que foi mimada pelos pais que quiseram dar aos seus filhos tudo o que eles não tiveram acesso quando criança. A geração Y foi educada a acreditar que eles podiam tudo, que podiam realizar todos os seus sonhos porque eles eram "incríveis", "geniais", o "futuro da humanidade".

Apesar de terem sido criados com essa ideologia, a realidade se apresentou bastante diferente. O artigo falava da dificuldade que a geração Y tem em aceitar que eles não são especiais. Que pra você ser rico e bem sucedido você precisa dar duro. Muito duro, trabalho e mais trabalho, persistência e dedicação. A geração Y não aceita começar por baixo, já querem chegar com o cargo de chefe da empresa. (quem quiser ler o artigo, basta clicar aqui. É bastante didático e ilustrado com unicórnios!)

Bom... eu trabalhava sábado das 8h30 até as 17h (depois passou a ser até as 18h). Tinha algumas turmas na segunda, algumas na terça e até uma na quarta. Recebia 18 reais por aula (nos últimos meses subiu para 20 reais). Eu dava aula em uma sala de uns 4x4 metros (sou péssimo em estimativa de medidas). Era uma sala pequena, sem janelas, com um ventilador na parede ao lado do quadro e havia turmas em que eu tinha 25 alunos que iam de 9 anos até adultos já velhos. 

O material didático da instituição era um lixo e eles não deram um exemplar pra mim para que eu pudesse preparar o material da aula ou poder seguir com os alunos... e ainda assim nem todos alunos recebiam o livro. Se eu pedisse para imprimir algum material extra, sempre ouvia uma desculpa: tá sem papel, tá sem tinta, agora não dá... se eu quisesse trazer um material complementar, tinha que ser pago do meu bolso. Era uma bagunça total. Entrava e saia aluno todos os dias sem aviso prévio então eu não consegui manter uma continuidade no ensino. Também não havia nivelamento dos alunos o que dificultava o desenvolvimento das atividades. E meu salário não era fixo... recebia por aula e a quantidade de aulas que eu teria no mês era um mistério: de um dia pra outra a diretora fechava uma turma, juntava com outra. Se faltava aluno ela me dispensava e aquela aula não era contada... Minha vida foi assim por um ano e quatro meses. 

Consegui um emprego no CNA no segundo semestre de 2015. Foi um sonho. Meu cargo é de monitor, não tenho turmas fixas. tenho pequenos horários de 30 ou 45 minutos em que os alunos podem agendar para tirar dúvidas, fazer revisão, praticar um pouco mais de inglês. O ambiente é totalmente diferente do meu primeiro emprego. Todos os funcionários são simpáticos, divertidos e bastante receptivos. Me senti em casa com menos de uma semana lá. Como nem sempre tem gente marcada, eu fico bastante a toa. E por ter vários professores de inglês e gente de nível avançado, pude colocar meu inglês (que tava ficando enferrujado) em prática e melhorei bastante em pouco tempo e meu salário era fixo e maior do que onde eu estava antes. Fiquei muito feliz. Mas no começo tudo são flores..


Um cigarro reduz a sua vida em 8 minutos - Um dia de trabalho reduz a sua vida em 8 horas

Depois de um tempo a gente começa a perceber os problemas, a ficar insatisfeito com algumas coisas. A monitoria é bem complicada: a maioria das vezes são alunos que não querem absolutamente nada ou que tem problemas gravíssimos e 30 minutos não vão resolver e nem sempre tenho tempo pra me preparar. E por "ficar a toa" as vezes me pedem pra fazer tarefas que não são minha função. 

E então eu começo e me comprar com os demais professores: dediquei 5 anos da minha vida pra ter um diploma e ser professor enquanto a maioria lá não tem esse papel. "Pra que eu gastei 5 anos da minha vida mesmo?", eu penso. Gente que dá aula de inglês porque passou as férias na Disney ou fazendo comprar em NY. Professor já não é uma coisa muito valorizada, mas acabo me sentindo ainda mais desvalorizado - até desrespeitado (na monitoria eu sempre ouço alunos reclamando de alguns professores e eu sei que eu faria melhor).

Mas ai eu penso no artigo sobre a geração Y. E então me faço de mulher estuprada. Sabe aquela história de que muitas mulheres que são estupradas ficam procurando desculpas pra não denunciar? Fazem mea culpa: eu provoquei, eu fiz isso, fiz aquilo, não devia ter feito tal coisa... eu também fico tentando achar justificativa pra aceitar  lugar onde estou: eu estou começando agora, tô pegando experiência, tenho que começar por baixo, o outro cara já tem anos de experiência... E assim tento "me por no meu devido lugar".

Mas porra, eu estudei! Eu investi minha vida! Agora eu trabalho 8 horas por dia, 44 horas por semana, nem sei quantas horas por mês (sou de humanas) pra não ganhar nem mil reais. Com mil reais eu não conseguiria sobreviver se eu pagasse as contas de uma casa. E com 8 horas diárias não sobra muito tempo pra fazer outras coisas.


Atualmente ando pensando em pedir demissão. Se eu parar de trabalhar, não irei passar fome, disso tenho certeza. E com o tempo que tiver, posso estudar para o mestrado. Passando no mestrado, posso conseguir uma bolsa (cerca de 1500 reais, mais do que eu ganho de salário) e, mesmo se não conseguir uma bolsa, posso fazer o sacrifício de ficar 2 anos sem dinheiro, mas ter um título de mestre que vai me abrir portas para um emprego melhor.

Eu sei que se eu quiser crescer na vida vou ter que estudar mais. Mas só vou conseguir estudar mais se tiver mais tempo e no meu trabalho atual isso não é possível. A vida já é difícil e a gente tem que fazer cada decisão mais difícil ainda... não queria ter crescido, a vida era mais fácil e simples quando eu era criança.


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"Chegou à conclusão de que era um monstro, separado do resto da humanidade. Caiu sobre ele uma tristeza tremenda..."