- Você o viu? Meu garoto? Meu queridinho. O pai dele tirou ele de mim.
- Saiu da minha buceta. Grande coisa. Isso não significa que eu tenho que cuidar dele.
- Minha criança é uma abominação. Ela não tem alma.
Ontem me deparei com uma imagem que contava com uma declaração feita pela ministra da Secretaria de Políticas para as Mulheres, Eleonora Menicucci, em que ela apoia a legalização do aborto e a imagem também era acompanhada da foto de um feto abortado para chocar o leitor. E como era de se esperar num país romântico como o Brasil, veio acompanhado de uma série de comentários depreciativos à ministra proferidos por pessoas com ódio no coraçãozinho. Antes de começar a discursar meu pensamento sobre o assunto, ainda preciso informar que a pessoa que compartilhou a imagem é uma garota que atualmente tem 15 anos e teve um filho aos 13 com um menino, que se não me engano, tinha 16 anos na época.
"O aborto, como sanitarista, tenho que dizer, ele é uma questão de saúde
pública, não é uma questão ideológica. Como o crack, as drogas, a
dengue, o HIV, todas as doenças infecto-contagiosas.", disse a ministra que, de acordo com a Folha.com, "é professora titular do departamento de medicina preventiva da Unifesp e
tem longa trajetória no movimento feminista e no combate à violência
contra a mulher". Ela também lutou contra a ditadura e foi colega de cela da atual presidente Dilma Rousseff.
Sou a favor da legalização do aborto. Que isso fique bem claro. Como a ministra colocou, é uma questão de saúde pública. Uma mulher que quer abortar, vai abortar de uma forma ou de outra, sendo isso legal ou não. A diferença é que, enquanto isso for ilegal, ela terá que recorrer a clínicas clandestinas e fundos-de-quintal. Onde vai ocorrer complicações que podem resultar na morte da mulher.
Se apresentar as complicações, elas vão em busca do pronto-socorro onde os nossos impostos vão ser gastos para tentar salvá-las. E é um dinheiro absurdo gasto para socorrer essas mulheres que, se o aborto fosse legalizado (como é em muitos países de Primeiro Mundo), poderia ir para salvar a vida de outros enfermos.
Esse assunto é bastante complicado e estou escrevendo sem o tempo necessário e alguns pontos talvez eu não consiga deixar bem claro ou defender corretamente meu ponto de vista. Mas tentarei. Continua lendo:
"Na hora de fazer achou bom, mas na hora de cuidar tirou o corpo fora", esse é um comentário que havia na imagem que mencionei acima. Por que estupro é considerado um crimo se as pessoas acham bom? Fico com esse pensamento quando leio o comentário... porque muitas mulheres que procuram o aborto, procuram porque foram estupradas.
Outro comentário comum é "existe camisinha e pílulas anti-concepcionais, a pessoa engravida porque quer". Levanto o dado boa parte das gravidezes são acidentais, e o acesso a informação ainda não é fácil e muito menos esse material acessível para as mulheres que estão a margem da sociedade. E trago para a conversa o caso da cantora Emilie Autum que, mesmo tomando pílula de controle de natalidade, engravidou... nenhum método anti-concepcional é 100% seguro.
E ter filho é fácil, cuidar dele que é problema. A gente vê essas famílias de baixa renda e esses crentes tendo filhos um atrás do outros. Mas essas crianças têm uma vida digna? É só fazer uma pesquisa e ver a quantidade de crianças mortas pelos próprios pais de maneira cruel. Alguém ainda se lembra do caso da Isabela Nardoni?
Na nossa sociedade, criança nunca teve muito poder de escolha. Quando uma criança está em um lar inapropriado ou os pais estão se divorciando, é o juíz quem decide se a criança tem que ir para um abrigo ou com qual dos pais ela fica. São os adultos que sabem o que é melhor para a criança. No caso do feto é a mesma coisa. Antes não nascer do que nascer em um ambiente que vai causar traumas, complexos e afetar todo o psicológico dela para o resto de sua existência. Uma existência com requintes de crueldade, uma tortura diária.
E já cansei desse tema. Paro por aqui e, se alguém quiser comentar e apontar o que eu não abordei mantendo um diálogo... o complemento do post fica nos comentários. E, talvez, eu retorne a esse post e faça algumas atualizações complementando o que não disse, como, por exemplo, a influência da religião nesse tema.
Em breve farei nova entrada comentando sobre os recentes filmes que assisti e gostei entre outras inutilidades.
