domingo, 28 de julho de 2013

A cura que não existe

Wie gehts es Ihnen? 

Escrevi esse texto a um tempinho atrás. Na época, o assunto da "cura gay" já estava passando e eu achei que o texto estava datado e por isso decidi não publicá-lo. 

Agora a pouco estava limpando meus pendrivers e esbarrei com o notepad com o texto e pensei "por que não publicar?". Cá estou. Infelizmente, perdi os links referentes aos textos que menciono, mas resgatei um que achei importante...
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Queria falar sobre a "cura gay" que está tão comentada nas redes sociais, sites e noticiários ultimamente. O que me chamou a atenção para discutir esse tema, foi quando os pastores começaram a escrever dizendo que o projeto estava sendo interpretado mal, que os ativistas gays estavam distorcendo o propósito e, após a fala desses religiosos, muita gente começou a ter um novo olhar para o projeto da "cura gay", chegando a apoiar.

São tantas coisas que preciso comentar que nem sei por onde começo. Acho que de início é preciso deixar claro que esse projeto veio do deputado João Campos (PSDB-GO), que faz parte da bancada evangélica.

Começarei por uma fala do mencionado deputado:
“Até pensei, quando apresentei esse projeto, que teríamos os aplausos inclusive dos ativistas do segmento LGBT. Porque nesse projeto, uma das finalidades é a gente resgatar a premissa inicial do artigo 5º da Constituição, de que todos são iguais perante a Lei. E essa resolução do Conselho Federal de Psicologia ofende esse princípio na medida em que discrimina o homossexual e não dá o mesmo tratamento ao heterossexual”

Como é de conhecimento público, a bancada evangélica não é nem um pouco favorável ao movimento LGBT. Estranho repentinamente eles estarem lutando pelos direitos dos homossexuais, não? E já que eles querem tanto que os homossexuais tenham os mesmos direitos que os heterossexuais, porque não criam ou apoiam projetos que permitem o casamento entre pessoas do mesmo sexo? Adoção entre casais gays?

Mas não, proporam o projeto apelidado na câmara de "cura gay" (que, se pensarmos bem, é um tiro no pé, já que deixa implícito que a heterossexualidade é passível de tratamento - sendo também um distúrbio, uma "doença").

Agora quero apresentar alguns trechos de um texto do pastor Silas Malafaia comentando sobre o projeto:
"O projeto não visa curar ninguém [...] O projeto tem a ver com Direitos Humanos. Nenhuma entidade de classe profissional, religiosa ou quem quer que seja, pode impedir uma pessoa de buscar ajuda se ela assim desejar e decidir. O que o Conselho Federal de Psicologia fez ao impedir que psicólogos tratem de homossexuais que vão pedir ajuda sobre a sua sexualidade, é uma afronta a Constituição e a própria ciência. Por que um heterossexual pode pedir ajuda a um psicólogo sobre sua sexualidade e um homossexual não? Em que parâmetros científicos e também legais você pode impedir um profissional de ajudar quem o procura?"

O projeto não visa curar ninguém... será? A algumas décadas atrás a homossexualidade era vista como doença sim. Depois de muita discussão, o Conselho Mundial de Psicologia (não tenho certeza que o instituto se chama assim) tirou a homossexualidade da lista de doenças. Finalmente entenderam que não era um distúrbio, não era passível de cura, não era uma anomalia biológica.

Não tenho conhecimento profundo sobre as leis e tudo da psicologia, mas até onde sei, os psicólogos não são proibidos de discutirem questões de orientação sexual com seus pacientes. Inclusive tenho um amigo que toda semana vai a psicóloga e em várias consultas esse tema é abordado. O que os psicólogos são proibidos é tentar mudar a orientação sexual do paciente. O que eles podem fazer é levar o paciente a se compreender melhor e se aceitar. É o "ativismo gay" que está distorcendo o projeto da "cura gay" ou é o ativismo religiosos que está distorcendo a interpretação das leis?

O projeto parece muito inocente, parece querer garantir direitos iguais, mas no fundo só quer corroborar para o pensamento de que homossexualidade é um distúrbio, uma doença  e que é preciso ser tratado e erradicado. Isso abre a margem para a criação de clínicas de reabilitação onde pessoas serão internadas a força. Parece que estou exagerando mas meses atrás, na África do Sul, alguns jovens morreram um acampamento que prometia transformar garotos "mais frágeis" em homens de verdade (notícia pode ser lida aqui).

É para essa direção que o projeto vai levar a sociedade. Para a mesma perseguição que Hitler fez aos judeus... haverá campos de concentração gays. Gente sendo torturada e morta. E depois o pastor Marcos Feliciano não sabe porque os evangélicos não são respeitados e são tachados de preconceituosos e homofóbicos.

Um homossexual só vai sentir a necessidade de mudar sua orientação sexual se a sociedade o pressionar. Seres humanos são seres sociais, vivem em sociedade e sentem a necessidade de serem aprovados pelo grupo com que convivem. Ninguém gosta de ficar a margem, querem fazer parte. Se o excluem, ele vai buscar uma forma de se encaixar novamente. Mara Maravilha disse dias desses, em entrevista, que conhece várias pessoas que querem deixar de serem gays. Será que ela conhece tanta gente nessa situação porque o grupo que ela convive é de evangélicos que abominam a homo-afetividade e humilha esse grupo e os perseguem como Hitler fez com os judeus?

Quem nessa história precisa de tratamento? Será o gay ou será o grupo que ele está inserido e que é intolerante e preconceituoso?

sábado, 13 de julho de 2013

I'm just a stranger!


Lunatics -  Odd Nerdrum, 2000

Já vinha cortando meu cabelo no estilo undercut há algum tempo. Dá última vez que fui ao cabeleireiro, decidi ser um pouco mais radical e passar a máquina zero nas laterais. Eu adorei. Especialmente porque esse tipo de corte alonga meu rosto, que é muito redondo.

Na faculdade muitos elogiaram o novo penteado, muitos criticaram. Curiosamente essa semana algumas cabecinhas do meu curso começaram a aparecer com o tal undercut... inclusive os que disseram que era feio.

Mas enfim, não é bem sobre isso que quero falar aqui hoje. Depois do estágio em Língua Portuguesa no ensino médio, comecei o estágio de Língua Inglesa no ensino fundamental. Um ano longe dos projetos de gente e muita coisa mudou neles... principalmente o visual. Parece até uniforme: todos com o mesmo sapato, camiseta, bermuda e o boné de aba reta.

Hoje em dia as pessoas algumas pessoas tentam tanto parecer diferentes que acabam ficando iguais... É lógico que a vestimenta é parte importante na identificação de um grupo social e o indivíduo se vê obrigado a se adequar ao estilo do grupo para se ver incluído.

As pessoas adoram etiquetar os outros: os nerds, os emos, os geeks, os góticos, os funkeiros... e um grupo não gosta do outro. Isso é uma regra de sobrevivência na savana da sociedade: você se etiqueta (ou é etiquetado), se encaixa no grupo e não pode gostar do que pertence ao outro grupo. Normal. É no outro que você se identifica.

Nos estilos musicais, por exemplo, não tenho nada contra quem gosta de funk, não tenho nada contra quem gosta de rock... mas tenho tudo contra quem gosta SÓ de funk, SÓ de rock. Não gosto de quem se limita e se simplifica. O ser humano é uma criatura muito complexa e a pessoa que se põe barreiras é, no mínimo, estúpida.

Funk não é meu estilo musical favorito. Não tenho um mp3 sequer no meu computador com esse estilo, mas sei que esse som pode animar uma festa, divertir os amigos. Posso ouvir uma música ou outra sem querer quebrar o rádio. Da mesma forma, gosto de rock, pop, jazz, clássico, house, lambada. Não gosto de todas as músicas de todos os gêneros, mas sempre tem uma que pode me agradar. A propósito, pra mim quem diz que gosta de TUDO é quem, na verdade, não sabe o que quer.

Não entendo porque as pessoas precisam se etiquetar. Sempre gostei do diferente e por isso acabei sendo etiquetado de "do contra". Mas pra mim o diferente sempre chamou mais a atenção. O Comum é conhecido por todos, não tem mais nada a oferecer. Mas o diferente tem algo de misterioso, algo pra ser desvendado...

E assim fui colecionando aqueles mistérios das coisas diferentes na esperança de que eu mesmo me tornasse uma coisa diferente e cheia de mistérios. Hoje em dia as pessoas são tão rasas. Assistem os mesmos programas de tv, os mesmos filmes, só conhecem (e superficialmente) aquilo que veem em alguma postagem no facebook. São incrivelmente chatas... ninguém mais tem curiosidade, paixão, interesse e dedicação.

Enfim, isso foi só um desabafo. A sociedade tem medo do diferente... ainda bem que eu aprendi a não ligar para o que os outros pensam.

Mas graças a Deus que há imperfeição no Mundo
Porque a imperfeição é uma cousa,
E haver gente que erra é original,
E haver gente doente torna o Mundo engraçado.
Se não houvesse imperfeição, havia uma cousa a menos,
E deve haver muita cousa
Para termos muito que ver e ouvir ... 

 - Alberto Caeiro, in "O Guardador de Rebanhos - Poema XLI"

"Chegou à conclusão de que era um monstro, separado do resto da humanidade. Caiu sobre ele uma tristeza tremenda..."