sábado, 6 de outubro de 2012

A divina comédia

E parece que a vida está se repetindo. Lá em 2009 eu sofria de uma depressão terrível, claro que eu tentava ao máximo não demonstrar meus problemas para ninguém. Sempre tentei parecer feliz, bem-humorado e com a vida perfeita. Não sei direito o que causou isso, mas a muito tempo me isolei do exterior. E nisso a relação com minha família ficou estranha... não falo com ninguém, ninguém fala comigo, quando a gente tenta trocar algumas palavras fica aquele constrangimento no ar, como dois estranhos que querem puxar assunto mas não têm absolutamente nada pra falar. E assim, no geral, sou o mais solitário aqui de casa. Minha mãe tem meu pai, meu irmão a namorada e eu tenho só a mim mesmo.

Nas últimas semanas tenho me sentido uma corda esticada ao máximo e a menor tensão adicionada vai arrebentá-la. Tantos sentimentos me atacaram de uma vez.



Ato I: Acho que o primeiro empurrão foi o assalto que me aconteceu. Quando fui assaltado nem liguei muito e a tarde maravilhosa que tive desfez qualquer nuvem escura que pairava sobre mim. Mas quando cheguei em casa a tempestade me pegou. Tive que aguentar meu pai bêbado falando tanta coisa - e a pior delas foi que eu não havia sido assaltado coisa nenhuma, que eu tinha era vendido o celular. A casa tremeu com minha fúria, lembro que de alguma forma estava mais alto que todo mundo, com a cabeça cheia de relâmpagos e a boca cheia de trovões. Todo mundo ficou assustado com minha reação.

Ato II: minha mãe decidiu encher a cara de porta-retratos. Pegou os álbuns de fotos, desenterrou as mais antigas e espalhou pela casa. E agora pra todo lado que olho há alguma foto de uma época em que meu cabelo era naturalmente liso, eu era um pouco mais bonitinho e muito mais inocente - e fotografias que provam que um dia eu era capaz de abraçar minha família de livre e espontânea vontade. Muitas fotos de defuntos estão pela casa e essas acredito que afetaram mais os outros do que a mim. Depois de beber muito meu pai veio chorando pedindo perdão entre outros lamentos de arrependimento, saudosismo e nostalgia. Eu até que queria sentir alguma coisa, mas guardei meus sentimentos tão fundo e agora não os alcanço mais.

Ato III: A faculdade ficou quase quatro meses em greve e quando retornou, tudo estava acumulado. E piorando a situação, nada de férias por um bom tempo. Saiu o horário do próximo semestre e quase todas as matérias vão chocar e provavelmente não poderei fazer as que mais gosto no semestre que vira. A professora supervisora da escola onde faço o PIBID está cada dia mais amarga e nosso convívio, complicado. Já andei pensando em desistir de tudo.

Ato IV: Minha mãe terá que fazer outra cirurgia no coração. O precedimento já está marcado, mas agora a pouco ela passou mal e fomos correndo pro hospital. Assim que chegamos lá, meu pai desapareceu e fiquei sozinho com minha mãe. Ela não estava conseguindo falar mas fez todo o esforço possível para me contar onde ela havia escondido algumas coisas que queria que eu herdasse e com que roupa ela queria ser enterrada... aquele sentimento de impotência se apoderou de mim. Vi 2009 se repetindo. Ela continua no hospital, mas parece que já melhorou.

Enfim, espero que este seja um daqueles momentos de grandes mudanças. Esse foi uma entrada um pouco curta. Escrevi muita coisa, mas tudo desconexo então vou publicarei só o que ficou mais ou menos amarrado. Quando minha cabeça parar de latejar volto para escrever mais..

3 comentários:

  1. Fiquei um bom tempo esperando sua atualização aqui. Msm que infelizmente não sejam boas notícias, é bom ler seus textos de volta.

    Não imagino vc bravo. É sempre tão doce e calmo, mas sei mto bem msm como é (vc sabe, ñ digo isso por dizer).

    Essa confusão da greve complicou mta coisa pra mta gente, só torço para que vc não desista dos seus sonhos. Vc foi destinado para coisas maiores. Vc sabe disso.

    Melhoras para sua mãe. Como sabe, meu pai tbm tem os mesmos problemas. Passou por várias cirurgias e muitas complicações nos últimos 10 anos, mas tudo deu certo e hj ele está bem melhor. Dará certo para sua mãe tbm.

    Qlq coisa mesmo, o que precisar, pode me chamar. Me liga, manda msg, chama no facebook....como preferir.

    Que tudo dê certo meu amigo! E vai dar certo sim!

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  2. Sá, as coisas, surpreendemente, nunca se repetem, apenas os sentimentos; a frustração, a nostalgia, o ódio, a alegria, sempre acontecem da mesma forma. Tenho certeza que você sabe que as coisas que acontecem ao seu redor não são culpa sua; nos fechamos, quando não podemos nos abrir, algo nos impede, cala nossa boca. Talvez seja bom reavaliar as coisas, sem mencionar as outras pessoas, para se enxergar, e se ver sem culpa. Tente se abrir mais, as pessoas não gostam de relacionamentos artificiais, em quem você tem confiança, não tenha medo de lhe abrir uma conversa verdadeira sobre você. Essa tristeza, sempre lhe é cabível, em todos os momentos, você vai ter necessidade de sentir algo, e com essa confusão toda, o seu corpo reage assim, já que não pode se abrir.

    Não tenho muito o que falar, sou muito emocionável, e até chorei com o texto, mas se esforce em direcionar pensamentos em coisas frutíferas.

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  3. Tudo que a gente vive acaba contando como experiência pessoal. Todas as tribulações, os momentos em que parece que nada faz sentido, as vezes que achamos que vamos enlouquecer, as crises, o medo de não saber como as coisas vão terminar. Quando a maré de experiências negativas passa, a gente percebe como fomos fortes pra aguentar tanta coisa sem desistir de tudo.

    Depressão é algo que ensina a gente a ver como a vida pode ser algo muito bom. E digo isso, pela minha própria experiência com essa grande amiga minha. Ela me faz cair pra ver que eu preciso levar a vida de um modo menos trágico e perceber que os problemas vem e vão, e que é possível tirar boas lições de tudo. Tudo!

    Eu sei que você se sente sozinho aí, e acredite que aqui eu também me sinto. Mas não fique pensando que você não tem ninguém porque as pessoas que você gosta estão distantes, às vezes morando até em outro estado. Em espírito elas sempre estão por perto. Um dia a gente ainda vai morar juntos. E não digo isso porque quero que você se sinta bem. É algo que eu prometi a eu mesma, desde a época da comunidade, quando você me acolheu de braços abertos e entendeu como eu me sentia em relação a tantas coisas que tive que passar.

    Você sabe que eu te amo, então não desista. Eu daqui prometo que não desistirei também.

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"Chegou à conclusão de que era um monstro, separado do resto da humanidade. Caiu sobre ele uma tristeza tremenda..."