domingo, 14 de setembro de 2025

Além do planeta silencioso.

 Ainda tentando me achar, acabei descobrindo um cantor com músicas que me viciaram. Bem o tipo de som que eu gosto... Bastante sintetizador, uma batida eletrônica meio vintage. A música tem textura. Me lembra madrugada, luzes da cidade, tem uma melancolia, saudade. E ainda tem o detalhe de ser em alemão. O único problema é o Edwin Rosen só tem dois eps e singles. Nada de álbum... mas está tudo no repeat por aqui.

"E você fica descalço na neve. 

e não é fácil pra mim ficar assistindo

assistir a isso.

E você pergunta "oh, está frio? está frio? está frio?"

Oh, está frio.

Mas você diz que é mais fácil

que eu sou muito mais frio.

Então você fica lá

Fica descalço na neve.

E seus lábios estão roxos

como as flores que eu nunca compro pra você"

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" Eu desperdiço minha juventude, desperdiço meu dinheiro

eu desperdiço minhas esperanças e tudo desmorona

Eu desperdiço meu tempo, meu tempo com você

estou desperdiçando meu tempo, meu tempo com você" 

 Após assistir a muitos vídeos de como cuidar de plantas eu comprei um pé de manjericão. Já replantei e um vaso virou quatro. Estou tentando cuidar da melhor forma que consigo pra ver se algo vive aqui nesse apartamento, ao menos as plantas podem ter uma chance. As ficus lyrata que achei na rua parecem estar prosperando (em comparação com a situação em que elas chegaram, estão indo muito bem). Inclusive hoje reparei que um dos meus cactos deu flor.  


 Ainda no tema planta, hoje fui caminhar e no caminho me deparei com esse desenho de coração feito com folhas... havia um montinho de folhas do lado então tudo me leva a crer que não foi uma formação natural.  Alguém se deu ao trabalho de recolher folhas e as arranjar nessa configuração. Quem quer que tenha feito isso, obrigado. 

Nem todo coração está partido.

 Acho que amanhã vou doar sangue. Meu sonho era que quando eu morresse todos os meus órgãos fossem doados e o corpo doado para alguma universidade pra dissecação. Minha forma de continuar ensinando mesmo depois de morto. Mas acho que nada disso vai ser possível, quando meu corpo for encontrado vai estar muito além do prazo de poder ser usado para o que quer que seja. Ao menos o sangue eu ainda posso deixar para ajudar alguém. 

O jogo da minha vida atualmente. 

sábado, 6 de setembro de 2025

Carta #2 - Para meu Desconhecido

 Olá, meu Desconhecido.

Faz três meses que a gente não se vê, mas eu não te esqueci. É como a língua que involuntariamente entra no espaço de um dente extraído. Tudo no meu dia me faz lembrar de você.

Quando eu levanto e faço a cama: foi vendo você dobrar os cobertores assim que acordava que passei a fazer o mesmo ao invés do meu velho habito de nunca fazer a cama. E sinto falta de levantar e fazer seu café da manhã ou você levantar primeiro de me tacar uma paçoquinha. Meu Desconhecido, você está conseguindo levantar no horário? Conseguiu ajustar os remédios para não ficar tão grogue de manhã? Conseguiu se sentir tão bem que voltou a acordar mais cedo e ir treinar às 6 horas?

Her morning elegance she wears
The sound of water makes her dream
Awoken by a cloud of steam
She pours a daydream in a cup
A spoon of sugar sweetens up

Her Morning Elegance -  Oren Lavie  

Quando chego no trabalho eu lembro de você: era o seu horário de levantar. Dali a pouco chegava sua mensagem de bom dia. E quando eu faço o café eu lembro da nossa rotina de sempre fazer o café de manhã... e agora eu tomo ele sem açúcar, como você fazia. 

E toda vez que eu tomo água eu me lembro de você, meu Desconhecido. Tomar água era uma das primeiras coisas que você fazia pela manhã. Uma garrafinha inteira. E sempre me alertava para tomar também, a todo momento. Agora eu tomo. Mas antes tive cálculo renal porque não segui seu conselho. E você literalmente ficou com um pedaço de mim. Ainda está guardando a minha pedrinha do rim, meu Desconhecido?

E no trabalho eu olho o pessoal da ilustração e lembro de você. Seus desenhos, seu traço tão autoral e característico. Até pensei em tirar seus desenhos que tenho na parede para não doer tanto. Mas não consigo. Meu Desconhecido, como está sua pauta no trabalho? Está cheia? Continua entregando tudo bem rápido? 

A Bjork apareceu em um material que eu estava analisando. Lembrei de você.

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sexta-feira, 5 de setembro de 2025

Carta #1 - Para minha mãe

My mother and her little brown jug
It held her milk
And now it holds our memories
I can hear her singing

[...]

I hear her laughing
She is standing in the kitchen

- A coral room; Kate Bush 

 

Oi mãe.

Estava em uma loja no centro da cidade e ao entrar em um dos corredores vi que já estavam colocando o material de decoração de Natal à venda. E ainda estamos em setembro...

A primeira vez que isso aconteceu depois da sua morte eu me vi desabando no meio da loja chorando como eu não costumo chorar. E isso se repetiu em todos os anos seguintes quando eu ia ao centro e via as lojas vendendo as coisas de Natal. Mesmo depois de oito anos, quando isso acontece, o meu coração ainda aperta e as lágrimas saem. 

O Natal era sua época favorita. Você decorava a casa inteira. Parece que pra você nunca era o suficiente, nunca estava demais. A árvore sempre ia aguentar mais um enfeite, as paredes precisam de mais bandeiras, bonecos de neve, papais Noel, brilho, luzes. Você adorava artesanato e sempre criava algum enfeite a cada ano. 

And Christmases alone.
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terça-feira, 2 de setembro de 2025

Quando a primavera vier de novo

"O que vejo - e o que vou dizer é importante para compreender meu irmão, acho - é que no nosso mundo nós não podíamos tentar, enquanto em outros mundos os erros são possíveis, e digo a mim mesmo - é apenas uma hipótese, agora é tarde demais -, digo a mim mesmo hoje que se meu irmão tivesse crescido em outro mundo nossos pais teriam dado a ele o dinheiro necessário para o curso, eles conseguiriam fazer isso, e talvez ele não o terminasse, talvez o abandonasse ou mentisse como tinha feito na escola, mas talvez o terminasse, e talvez esse curso tivesse mudado sua vida, talvez ele tivesse se tornado outra pessoa, talvez tivesse sido mais feliz, mais equilibrado, essas coisas que dizem, e talvez graças a essa nova felicidade ele não tivesse se afundado, e não tivesse morrido, não saberemos jamais, porque em nosso mundo experimentar não era algo possível, depois eu vi o mundo daqueles que vivem com conforto e com dinheiro que alguns de seus filhos eram como meu irmão, alguns bebiam, alguns roubavam, alguns detestavam a escola, alguns mentiam, mas seus pais procuravam coisas para ajudá-los e para tentar transformá-los lhes ofereciam um curso de confeitaria, de dança, de atuação em uma escola de teatro fraca e caríssima, eles tentavam, e é assim a Injustiça, há dias em que a Injustiça me parece mais do que a diferença de acesso ao erro, a Injustiça me parece nada mais do que a diferença de acesso às tentativas, sejam elas fracassadas ou exitosas, e fico tão triste, tão triste."

 - O Desabamento; Édouard Louis p.55-56

 Ando pensando muito sobre esse livro do Édouard. Li em um dia e foi porrada atrás de porrada. E de certa forma esse trecho dialoga com o que eu escrevi da última vez e gostaria de escrever mais. Sinto que não consigo escrever de uma forma lógica. Sempre escrevi no fluxo de consciência só que ainda assim sentia que o que eu dizia tinha algum tipo de conexão, um começo meio e fim. Agora parece que pulo de um assunto ao outro sem aprofundar, sem ir a lugar nenhum e sem finalizar.

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"Chegou à conclusão de que era um monstro, separado do resto da humanidade. Caiu sobre ele uma tristeza tremenda..."